Ontem minha filha mais nova fez um aninho. Um ano inteirinho de mais um serzinho aqui na terra. Um ano em que nossa família precisou aprender a ser 5 (6 se contarmos nosso cachorro Barnaby). Um ano de uma nova versão minha enquanto mãe de três. Um ano de descobertas, lutos, risos, choros e muitos aprendizados.
Eu sabia que hoje eu escreveria sobre isso. Eu estava certa de que escreveria sobre a decisão de ter tido um terceiro filho. Sobre os estudos que apontam que, diferente da chegada do primeiro e segundo, a chegada do terceiro filho representa uma queda no nível de felicidade dos pais. Eu argumentaria que estudos são só estudos, com vieses e limitações, mas como essa correlação entre número de filhos e felicidade parental me parece razoável, tendo em vista que, com a chegada do terceiro, os pais agora ficam em menor número.
O primeiro ano de um filho representa um ano de sobrevivência para a mãe.
Um ano de um mergulho num mar de variáveis e, quando esse mergulho é o seu terceiro, as variáveis são triplicadas. A chegada do terceiro filho representa não só a chegada do terceiro filho. Não é “““só””” mais uma criança da qual você precisa cuidar. Você precisa cuidar do terceiro filho e da relação do terceiro com o segundo e da relação do terceiro com o primeiro e da relação do segundo com o primeiro que agora terá uma nova dinâmica. E aí você precisa reaprender a maternar o segundo que agora é irmão mais velho e reaprender a maternar o primeiro que agora é irmão de dois, enquanto você aprende a maternar o terceiro a quem você ainda não conhece. E aí você precisa reaprender a se relacionar com o parceiro que agora é pai de três, enquanto você aprende a ser mãe de três e a maternar dentro de novos parâmetros. Tudo isso numa casa que agora tem mais roupa suja e mais bagunça.
De fato, se a busca for por facilidade, é melhor criar peixe e não gente. O terceiro filho é outro grau de dificuldade. Até quando se tem ajuda, as demandas de pelo menos um dos filhos sempre “sobrará” para você. Os momentos “off” são extremamente raros. E hoje eu estava pronta para escrever sobre tudo isso. Sobre o meu cansaço. Sobre o desafio que é empreender com filhos pequenos em casa e a sensação que, às vezes, bate de que eu não estou fazendo nada bem.
Eu escreveria sobre o fato de que hoje, com três filhos, eu não me considero menos feliz, mas eu certamente preciso trabalhar de maneira muito mais ativa e consciente na minha felicidade.
Nesse último ano, eu precisei me esforçar muito mais para enxergar a beleza na simplicidade, para sentir gratidão pela vida que eu tenho e as escolhas e privilégios que fizeram com que essa versão de vida fosse possível para mim. Eu tive que respirar fundo mais vezes. Eu tive que me conectar com Deus de outras formas. Eu tive que subir na minha bike com a seriedade de quem toma um remédio para a própria saúde mental. Eu tive que fazer o caminho de volta todas as vezes em que eu senti que estava me tornando uma versão de mãe que eu me recuso a ser: a mãe rabugenta e que sempre diz não.
Eu escreveria como o primeiro ano da minha terceira representa o meu último ano de primeiros e como, depois de quase uma década sendo mãe, eu estou absolutamente ok com isso. Eu tenho um lembrete constante do quanto passa rápido no formato de um menininho de 8 anos andando pela minha casa, por isso eu absorvo cada momento, mas eu os deixo ir sem tristeza ou nostalgia, porque eu me sinto pronta. Me sinto pronta para dizer adeus a essa fase da vida onde gestei, pari, amamentei (ou tentei), ninei. Me sinto pronta e sinto uma finitude que eu não sentia com minha segunda filha. Me sinto pronta como se, de fato, estivesse encerrando um capítulo nesse livro que eu escrevo sobre minha vida. Me sinto pronta e em paz com isso.
E daí eu acordei na manhã do dia 8 de janeiro para dar adeus a minha última bebê e as boas-vindas a minha toddler e, para minha surpresa, me vi no olho de um furacão de emoções conflitantes. Fui olhar as fotos do parto e chorei. Depois, olhei para Nora sentada no cadeirão, com um rabinho no cabelo feito pela avó, e chorei mais um pouco. Ela me pareceu tão menos bebê do que na noite anterior.
Mais tarde, ao cantarmos parabéns, eu observava os meus três filhos se deliciando num bolo de chocolate. A do meio diz que o bolo, comprado no mercado porque eu estava cansada demais para fazer um, estava bom. O mais velho então diz que o bolo não é melhor do que o que eu faço. A mais nova, empolgada com seu primeiro gosto de açúcar (coisa de terceiro filho que os outros dois não tiveram), levanta as mãozinhas em comemoração. E a do meio começa então a puxar um coro: “a mamãe é a melhor! A mamãe é a melhor!” Por sorte, eu estava filmando e vou poder rever esse momento muitas e muitas vezes. Mas ainda que eu não estivesse, eu iria guardar na memória para sempre.
Depois de banho tomado e dentes devidamente escovados, os três foram dormir e eu fui tomada por um sentimento de profunda gratidão. Eu fiquei pensando que eu não queria escrever mais nada daquilo que eu queria ter escrito antes. Eu fiquei pensando que eu não mereço os filhos maravilhosos que eu tenho. Não no sentido de me culpar por sentir cansaço ou de menosprezar meus desafios, mas no sentido de que nós adultos não merecemos o amor e a generosidade das nossas crianças. “É justo que muito custe o que muito vale” e, enquanto nós apontamos para os filhos focando tanto nas demandas e dificuldades, enquanto mergulhamos em culpa e (auto)cobranças, nossos filhos nos levantam e nos envolvem num tipo de amor tão puro e tão genuíno, enquanto se esbaldam, felizes da vida, num bolo barato comprado no mercado e que nem estava tão gostoso assim.
No fim, penso que entre o que eu queria ter escrito e o que eu escrevi, de fato, esteja a mais completa definição do que seja a maternidade. É aí nessa interseção que reside toda complexidade, ambiguidade e as maravilhas de criar e educar seres humanos. Quer você tenha um, dois, três ou mais deles.
Sua leitura me fez lembrar o balanço das ondas do mar onde, tantas vezes, minhas filhas brincavam durante as férias. Além de me ter trazido o cheiro da maresia.
Voltei a ser criança em sua leitura e resgatei meus dias quando minhas filhas eram pequenas. 💞
Com você aprendo a apreciar a maternidade com mais calma e guardar tudo com mais zelo na mente, no coração e na nuvem. 😅
E amei o ato-falho “roupa chuva”’pq parece mesmo que elas caem do céu como gotas sem fim! Hahaha